DO ARTISTA E DO SEU PUZZLE: DOS LABIRINTOS À VIAGEM INTERIOR
A pintura de Augustin Plata Huertas não se presta a uma contemplação tranquila. Incomoda, interroga. É sempre perigoso ensaiar uma tentativa de figuração, porque as cores, as formas quase nunca permitem uma representação credível e incontroversa. É justamente isto que faz dela uma pintura singular, uma expressão plástica que nenhuma memória descritiva pode substituir. Sabemos que é a desta massa que se fazem os artistas que nos fixam. Sabemos que o amador atento, o leitor, é livre de se entregar a esse jogo descriptador, que se modifica quando alteramos a distância de observação, que constrói e desconstrói hipóteses visuais. Sabemos também que num pintor, num pintor consequente, cada obra é uma pequena parte de uma conjunto mais vasto: o seu cosmos ou pelo menos um dos seus universos temáticos, sinais de navegação de um percurso, que um piloto cuidadoso pode ensaiar transformar em rota; encontrar os fios, reconstruir os veios. Sabemos ainda que é este trabalho paciente sobre o imenso puzzle que o artista semeia, confundindo-nos umas vezes, outras apanhando-nos nas suas teias de sedução, que constituem o mistério e a busca, as mais magnéticas formas de circunscrever a vista, veículo indispensável de transmissão e reflexão sobre as artes visuais. Nos primeiros Labyrinthes de Augustin, há uma dureza cromática, provocante e contrastada, que nos interroga sobre as possíveis ligações entre os blocos geométricos alinhados em toda a superfície e a série de finos corredores paralelos, verdadeiros cabos sustenção, de que as juntas de suporte não são invariavelmente ocultadas. Sucede-se um imenso conjunto de variações sobre as Demeure(s) que se impõem como o lugar geométrico da tentativa, sempre interrompida, do artista se explicar, de fazer e recomeçar o seu auto-retrato, ou porventura apenas a tentativa de refazer o seu espaço, de refigurar o seu lugar de existir como criador. Construção do habitat, lugar construido no qual se vive, do ponto de onde se vê, janela sobre o mundo e os outros, lugar do espelho em que o artista se interroga e desvenda, se oculta, refugia, mas também se oferece. Que não seja pela sua pintura, pela forma peculiar de se exprimir, de sussurrar as suas inquitetações, numa palavra, de comunicar na sua linguagem específica, a plástica. Assinala-se, que a pintura interiorizada, introspectiva de Augustin, entravaza por vezes para além dos seus limites e é capaz de exprimir de um jacto a sua relação com o outro, a sua ânsia de dávida e partilha. De l'intrusion du sentiment amoureux e Fulguration(s), documentam esta fase jubilatória, que aparece pacificada no belo ciclo de tintas japonesas, La voie des pétales, conjunto que o autor reserva para nos mostrar sem interferências, mas que constituem sem dúvida um momento forte da sua incansável viagem. A descida às entranhas, momentâneo apogeu do seu percurso, é um projeto de fôlego, intitulado Le voyage intérieur. Exprime-se agora em grandes telas quadradas, que impressionam pela luz, pelo aclaramento da paleta, pela sugestão de formas aladas. Como se da violência das cores contrastadas se passasse para uma viagem aérea ao interior de si. Vôo rasante sobre as paredes brancas, em que parece revisitar as suas obsessões mais familiares, revistas a uma outra luz, surpreendentemente iluminadas, profundas e íntimas, busca sem fim da sua própria imagem, sem cessar transformada, auto-retrato em movimento, esse cuadro único, de que o pintor de cada vez nos fornece um só pedaço, uma única pequena peça.
António Melo
AUGUSTIN PLATA Le voyage intérieur Du 13 au 31 Décembre 2000 Exposition Instituto Superior de Psicologia Aplicada Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa – Portugal Exposition Institut Franco Portugais Av. Luis Bivar, 91, 1050-143 Lisboa – Portugal
A pintura de Augustin Plata Huertas_ Um limiar
« (…) l’âme, l’instrument aux mille cordes. »
Kandinsky
Nesta sua primeira exposição em Portugal, Augustin Plata Huertas abre-nos o limiar de um universo que vemos despertar na pureza e na melancolia das suas cores, na imprevisibilidade rigorosa das suas formas. A linha tem um papel condutor e parece orquestrar a polifonia cromática, oscilando entre os tons intensos e primários, vermelhos, amarelos, azuis (e suas complementares) e os tons neutros, suavemente apagando-se, e que, por efeito de contraste, detêm grande parte do poder de ressonância e de vibração desta pintura. A cor dá uma personalidade às formas, revela a sua identidade secreta e palpitante. Formas desconhecidas, não geométricas, brotando da profundidade submersa do espírito, emergindo do inconsciente para a luz da consciência que lhe confere um sentido. Formas resgatadas a um desconhecido permeável à doçura e a sensualidade do mundo. Formas que atravessam a frágil fronteira do não ser, recolhendo-se no território protegido, efêmero do olhar. Também o suporte do papel parece frágil, no entanto, estas figurações luminosas e coloridas, vibrantes, caleidoscópicas, são feitas para durar. Monolitos, pedras gravadas do espírito, transportam os seus enigmas, íntimas paisagens de alegrias e assombrações, reflexos de uma realidade movente, fugidia, que como elas, com elas permanece. A perspectiva é dada pelas cores, as mais intensas avançando, as sombras criando distâncias e pela forma, em diferentes escalas que as gradações de cor acompanham. Não há uma lógica definida, mas um processo e uma coerência própia, o acaso, no sentido surrealista, presidindo às associações, ao nascimento das formas de contornos nunca repetidos, banhadas por atmosferas doces e diurnas, envolvidas no véu de líquidas sombras, banhadas por uma contagiante claridade. Sóis ou íntimos incêndios do olhar, lagos ou lábios de sorridentes manhãs, árvores, esmeraldas, poentes na charneca, oceanos portáteis, cidades erguendo-se timidamente nos braços da aurora ou adormecendo em noites lânguidas. Emoções puras e doces, uma alegria solar e cálida, nostalgias de presenças vagamente sugeridas, evanescentes, vivas. Estão abertas as portas que separam, unem, o mundo de dentro e uma realidade exterior, assim encantada.
Maria João Fernandes Jornal de Letras_ Arte e Ideias
AUGUSTIN PLATA monolithes Du 2 au 24 Novembre 1999 Exposition Instituto Superior de Psicologia Aplicada Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa - Portugal
Augustin Plata Huertas é um combatente nas artes plásticas. Trabalhador incansável, soube ao longo dos anos, amadurecer uma obra consistente e estimulante, conseguindo afirmar a singularidade do seu própio caminho. Procedendo pela declinação em largos ciclos de uma estética e uma técnica, o artista propõe-nos desta vez, o grande espaço do voo do pica-pau e o sopro das vozes – sinais de fumo. Todas as peças são executadas em colagens de grande minúcia, que dão corpo a uma linguagem de aparência minimal, que suscitam ora uma observação atenta ora distanciada. Os seus noturnos impalpáveis, princípio e fim de um ciclo em que pássaros, vozes e fumos aparecem, antes de deixar livre o espaço pictórico. Despojados, mas nem por isso menos tortuosos, interrogam-nos no seu monocromatismo provocante, integrando uma tradição longa, em que é difícil esquecer uma linhagem que remonta a Malevich de Branco sobre Branco (1918), ou ao Yves Klein dos Blue Monochrome (1961).
António Melo
AUGUSTIN PLATA Assemblage Mai 2005 Exposition Instituto Superior de Psicologia Aplicada Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa – Portugal
Augustín Plata Huertas es un luchador de las artes plásticas. Trabajador incansable, supo a lo largo de los años, madurar una obra de arte consistante y estimulante, logrando afirmar la singularidad de su recorrido. Procediendo por la declinación de amplios ciclos de estética y técnica, el artista nos propone esta vez el gran espacio de El vuelo del pájaro carpintero y El sopro de las voces - Señales de humo. Todas las obras son realizadas por collages de gran minuciosidad, que dan cuerpo a un lenguaje de apariencia minimalista que suscitan una observación lo más cercana posible o con un gran retroceso. Sus Nocturnos impalpables, son el principio y el final de un ciclo en el que los pájaros, las voces y las señales de humo aparecen antes de liberar el espacio pictórico. Desnudados, pero sin que sean torcidos, estos territorios-señales-espacios nos interrogan sobre su composición monocromática provocadora, que incorpora una larga tradición, de la que se asocia de buen grado una filiación que se remonta a Malevich con Blanco sobre blanco (1918), o a Yves Klein con Monocromo Azul (1961). Antònio MELO
AUGUSTIN PLATA Assemblage Exposición mayo 2005 Instituto Superior de Psicología Aplicada Jardim Rua do Tabaco, 34 1149-041 Lisboa – Portugal
La pintura de Augustin Plata Huertas_ Un umbral
« (…) l’âme, l’instrument aux mille cordes. » Kandinsky
La primera exposición de Augustin PLATA HUERTAS en Portugal nos abre el umbral de un universo que vemos despertarse en la pureza y en la melancolía de sus colores, en la rigurosa imprevisibilidad de sus formas. La línea tiene un papel conductor y parece orquestar la polifonía cromática, oscilando entre los tonos intensos y primarios, rojos, amarillos, azules (y sus complementarios) y los tonos neutros, desvaneciéndose suavemente, y eso, por efecto de contraste, conservan gran parte del poder de resonancia y de vibración de esta pintura. El color ofrece una personalidad a las formas, revela su identidad secreta y emocionante. Formas desconocidas, no geométricas, surgiendo de la profundidad sumergida del espíritu, emergiendo del inconsciente para la luz de la conciencia que le confiere sentido. Formas salvadas a un desonocido permeable a la dulzura y a la sensualidad del mundo. Formas que cruzan la frágil frontera del no ser, uniéndose en el territorio protegido, efímero de la mirada. También el soporte del papel parece frágil, sin embargo, estas figuraciones luminosas y coloridas, vibrantes, caleidoscópicas, están hechas para durar. Monolitos, rocas grabadas del espíritu, transportan sus enigmas, íntimos paisajes de alegrías y de sombras reflejos de una realidad cambiante, furtiva, que como ellas, con ellas, permanecen permanentes. La perspectiva viene dada por los colores, los más intensos que avanzan, los más oscuros y las formas que crean distancias y diferentes escalas que acompaña la gradación del color. No hay una lógica definida, sino un proceso y una coherencia personal, y quizás, en el sentido surrealista, presidiendo las asociaciones, al nacimiento de formas con contornos nunca repetidos, bañadas por atmósferas suaves y diurnas, envueltas en el velo de líquidos oscuros, bañadas en una contagiosa claridad. Se encuentran los íntimos incendios de la mirada, lagos o labios de mañanas sonrientes, árboles, esmeraldas, pasarelas en el páramo, océanos portátiles, ciudades que se erigen tímidamente en los brazos del amanecer o se duermen en noches lánguidas. Emociones puras y dulces, una alegría solar y tierna, nostalgia de presencias vagamente sugeridas, evanescentes, vivas. Están abiertas las puertas que separan, unen el mundo del interior y de una realidad exterior, así encantada.
Maria João Fernandes Jornal de Letras_ Arte e Ideias
AUGUSTIN PLATA monolithes
Du 2 au 24 Novembre 1999 Exposition Instituto Superior de Psicologia Aplicada Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa - Portugal
DEL ARTISTA Y DE SU PUZZLE: DE LOS LABERINTOS AL VIAJE INTERIOR
La pintura de Augustin Plata Huertas no se presta a una contemplación tranquila. Es incómoda, interroga. Siempre es peligroso intentar un intento de figuración, porque los colores, las formas, casi nunca permiten en sí mismas una representación creíble y sin controversia. Esto es precisamente lo que la convierte en una pintura única, una expresión plástica que ninguna memoria descriptiva puede sustituir. Sabemos que es a partir de este molde que se hacen los creadores que nos atraen. Sabemos que el apasionado atento, el lector, es libre de participar en este juego, que cambia cuando modificamos la distancia de observación, que construye y deconstruye hipótesis visuales. Sabemos también, en el caso del pintor, de un pintor consecuente, que cada obra es una parte, una trama, de un todo más amplio: su universo o al menos uno de sus universos temáticos, signo del viaje en un recorrido, que con un paso dominado se puede transformar en gran Vía; camino abierto, reunión de hilos, reconstrucción de hilos de conexiones... Sabemos también que es este trabajo paciente en el inmenso puzzle que el artista siembra, a veces nos confunde, también nos atrapa, en sus telas de seducción, que constituyen el misterio y la búsqueda, las más magnéticas formas de circunscribir la mirada, vehículo esencial de transmisión y de reflexión sobre las artes visuales. Del primer tema de los Labyrinthes de Augustin, hay una dureza cromática, provocativa y contrastante, que nos interroga sobre las posibles conexiones entre los posibles bloques geométricos alineados en toda la superficie y la serie de corredores finos paralelos, verdaderos cables de soporte, de apoyo donde las articulaciones de soporte no se nos están invariablemente ocultados. Luego aparecen variaciones en un inmenso conjunto de Demeure(s) que se imponen como un lugar geométrico del intento, siempre ininterrumpido, de que el artista se explique a hacer y vuelva a comenzar su "autorretrato", o el intento de realizar de nuevo su espacio íntimo, de reconfigurar su espacio, lugar de existencia propio del creador. Construcción del hábitat, espacio donde se vive, lugar donde se ve, ventana abierta al mundo y a los demás, lugar espejo donde el creador se interroga y se revela, se refugia, pero también se ofrece: por su pintura, por las formas particulares utilizadas, para expresarse, susurrar sus preocupaciones, en una palabra, para comunicar su lenguaje específico, el arte plástico. Subrayamos que la pintura interiorizada, introspectiva de Augustin, se extiende a veces más allá de sus límites y que es capaz de expresar de una sola vez su relación con el otro, su ansiedad de dar y de compartir. De l’intrusion du sentiment amoureux et Fulguration(s) documentan esta fase jubilatoria, que aparece pacificada en el hermoso ciclo de tintas japonesas, La voie des pétales, conjunto que el autor nos reserva, para revelarnos sin interferencias, pero que constituyen, sin duda, un momento fuerte de su incansable viaje. El descenso a las entrañas, momento culminante momentáneo de su recorrido, es un proyecto de gran haliento titulado Le voyage intérieur. Se expresa, ahora, en telas grandes de formato cuadrado, que impresionan por la luz, por la aclaración de la paleta, por la presencia de formas aladas sugeridas. Como si la violencia de los colores contrastantes fuera transmitida por un viaje aéreo dentro de uno mismo. Vuelo rasante en las paredes, las paredes blancas, lugar donde parece volver a visitar sus propias obsesiones familiares, bajo otra luz, iluminación sorprendente; profunda e íntima; búsqueda sin fin de su propia imagen, sin límite, en transformación, autorretrato en movimiento de este cuadro único, que el pintor nos proporciona cada vez, una sola pieza, una pequeña pieza única.
António Melo
AUGUSTIN PLATA Le voyage intérieur Du 13 au 31 Décembre 2000
Exposition Instituto Superior de Psicologia Aplicada Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa – Portugal Exposition Institut Franco Portugais Av. Luis Bivar, 91, 1050-143 Lisboa - Portugal